No dia em que se ia casar, Nicolau Manuel foi levado pela Guarda para um interrogatório e já não voltou. Viveu, assim, quase toda a vida na urgência de contar a verdade a Graça dos Penedo, a noiva que mais tarde lhe seria arrebatada pelo alfaiate que lhe fizera o fato do casamento. Porém, sempre que se abria uma possibilidade, uma ameaça desviava-o dramaticamente do seu destino – e agora, meio século volvido, está velho de mais para querer mudar as coisas, gastando os dias com telenovelas.
De tanto ter ouvido ao avô a sua história rocambolesca, Valdemar – um rapaz violento e obeso apaixonado pela vizinha anoréctica – não desistiu, mesmo assim, de fazer justiça por ele. E, ao encontrar casualmente a notícia da morte do alfaiate, sabe que chegou a hora de ir falar com a viúva: até porque essa será a única forma de resgatar Nicolau Manuel da modorra em que se deixou afundar.
Alternando a narrativa dos sucessivos infortúnios de Nicolau Manuel – que é também a história de Portugal sob a ditadura, com os seus enganos, perseguições e injustiças – com a de um adolescente que mantém um diário com numerosas passagens rasuradas como instrumento de luta contra o mundo –, Deixem Falar as Pedras é um romance maduro e fascinante sobre a transmissão das memórias de geração em geração, nunca isenta de cortes e acrescentos que fazem da verdade não o que aconteceu, mas o que recordamos.
David Machado nasceu em Lisboa em 1978. Em 2005, o seu conto
infantil A Noite dos Animais Inventados recebeu o
Prémio Branquinho da
Fonseca, da Fundação Calouste Gulbenkian e do jornal Expresso, e desde
então publicou mais quatro contos para crianças, Os Quatro Comandantes
da Cama Voadora, Um Homem Verde Num Buraco Muito Fundo, O Tubarão na
Banheira, distinguido com o
Prémio Autor SPA/RTP 2010 de
Melhor Livro
Infanto-Juvenil, e A Mala Assombrada. Os seus livros estão publicados em
Itália, França, Brasil e Marrocos. Os seus contos foram publicados em
antologias e revistas literárias em Itália, Alemanha, Noruega, Reino
Unido, Islândia, Marrocos e Colômbia.
Em 2015 o livro
Índice Médio de Felicidade recebeu o
Prémio da União Europeia para a Literatura.