Prefácio de Miguel Real.
Atingido por um violento golpe que foi a morte da mulher, Dordalma, Silvestre Vitalício (aliás Mateus Ventura) pega nos dois filhos, Mwanito (ainda bebé) e Ntunzi, e foge da cidade em busca de um refúgio seguro, isto é, completamente cortado do mundo. Encontra-o numa velha coutada de caça abandonada e aí instala o seu reino, a que dá o nome de Jesusalém.“Era ali que ele aguardava o regresso de Deus.”
A história é-nos contada, do início ao fim, pelo filho mais novo, Mwanito, que, por o ser, não tem qualquer noticia, não saba absolutamente nada do mundo exterior, o mundo real, a que Silvestre Vitalício chama “do Lado-de-Lá”. Com ele, pelos olhos dele, vamos descobrindo esse mundo, o nosso mundo, numa das mais maravilhosas histórias já escritas em português. Jesusalém se chama essa história.
«Jesusalém é seguramente a mais madura e mais conseguida obra de um escritor em plena posse das suas capacidades criativas.
Aliando uma narrativa a um tempo complexa e aliciante ao seu estilo poético tão pessoal, Mia Couto confirma o lugar cimeiro de que goza nas literaturas de língua portuguesa. A vida é demasiado preciosa para ser esbanjada num mundo desencantado, diz um dos protagonistas deste romance. A prosa mágica do escritor moçambicano ajuda, certamente, a reencantar este nosso mundo.»